Supostas conversas de ex-assessor de Moraes denunciam ‘justiça paralela’ no 8/1

O jornalista estadunidense Michael Shellenberger publicou na segunda-feira (4) supostos arquivos que indicam abuso de poder do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes no julgamento dos envolvidos na depredação da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

A reportagem assinada por David Ágape e Eli Vieira denuncia que Moraes teria criado uma “força-tarefa secreta e ilegal” no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para vasculhar as redes sociais dos investigados com objetivo de justificar as prisões.

As conversas vazadas expõe mensagens de Eduardo Tagliaferro, nomeado por Moraes em 2022 para chefiar a AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação) do TSE. Ele deixou o cargo em 2023, após ser preso por violência doméstica.

A chefe de gabinete de Moraes no STF, Cristina Kusahara, aparece no suposto grupo de WhatsApp. Em 13 de fevereiro de 2023, ela teria dito: “A PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu LP (liberdade provisória) para eles, mas o ministro não quer soltar sem antes a gente ver nas redes se tem alguma coisa”.

Os jornalistas também divulgaram supostas certidões do TSE que anexavam postagens dos investigados pelo 8 de janeiro de 2023 consideradas “antidemocráticas”, com críticas ao STF, ao presidente Lula e às urnas eletrônicas. Os documentos, contudo, não foram submetidos às defesas e não fizeram parte dos autos.

A publicação ainda acusa Moraes de usar ilegalmente o GestBio, banco de dados biométrico do TSE, para identificar participantes do 8 de janeiro com base em imagens e pesquisar seus nomes nas redes sociais.

“Esses documentos revelam que, em vez de um processo legal independente, a investigação sobre o dia 8 de janeiro foi parcial e motivada por interesses políticos”, acusam David Ágape e Eli Vieira.

Vaza Toga parte 2? Dossiê acusa Moraes de ‘abusos politizados’

A publicação de Michael Shellenberger é considerada a segunda parte da “Vaza Toga”, escândalo divulgado pelos jornalistas Glenn Greenwald e Fabio Serapião na Folha de S. Paulo em agosto de 2024.

Os arquivos referentes ao 8 de janeiro partiram do mesmo acervo de 6 gigabytes de mensagens e arquivos trocados via WhatsApp por auxiliares de Moraes na “Vaza Toga”.

As supostas conversas publicadas por Greenwald e Serapião indicam que o ministro teria usado o TSE como “braço investigativo” para embasar decisões contra investigados no inquérito das fake news no STF.

Segundo a reportagem da Folha, Airton Vieira, juiz instrutor do gabinete de Moraes, pedia informalmente a Eduardo Tagliaferro relatórios do TSE contra aliados de Jair Bolsonaro (PL) para o inquérito das fake news.

Em abril de 2025, a Polícia Federal indiciou Tagliaferro pelo vazamento de mensagens internas dos gabinetes de Moraes, tanto no STF quanto no TSE. Ele é acusado de violação de sigilo funcional, com prejuízo à administração pública. A defesa do ex-assessor nega qualquer envolvimento.

O jornalista norte-americano Glenn Greenwald compartilhou publicação da “Vaza Toga 2” na segunda-feira.

“No ano passado, recebemos – graças a um denunciante muito corajoso – um enorme arquivo de documentos e conversas de dentro dos aposentos de Alexandre de Moraes mostrando abusos massivos de poder, todos publicados na Folha. Agora, Shellenberger tem uma grande história sobre o quão politizados esses abusos foram”, escreveu na plataforma X.

O ND Mais entrou em contato com o STF, o gabinete de Alexandre de Moraes e o TSE, mas não obteve retorno até o momento. O espaço segue aberto.

FOTO: Ex-assessor de Moraes, Tagliaferro foi indiciado pelo vazamento de mensagens na “Vaza Toga” em abril – Foto: Internet/Reprodução/ND

MATÉRIA REPUBLICADA DO NDMAIS

Visited 57 times, 1 visit(s) today