Karen Junqueira quer usar sua imagem para ressignificar um trauma e evitar que crianças sejam expostas à violência sexual. Cinco meses após revelar publicamente ter sido vítima de um estupro aos 12 anos, a atriz, no ar em “Haja coração”, anuncia que criará uma campanha para conscientizar pais e responsáveis sobre os riscos.
Antes de decidir publicar a carta aberta (em que revelou à Revista Claudia ter sido abusada sexualmente pelo pai de uma amiga), eu pensava: “O meu silêncio não ajuda em nada”. Então, eu quis transformar o que eu vivi em algo positivo. Reparei que, em muitos casos, muitas mulheres abriam a boca depois de uma se posicionar. E vira uma corrente de coragem. Muitas vezes, a pessoa que passa por isso sente medo, culpa, vergonha. Mas quem fez é que cometeu o crime. Depois do meu relato, muitas mães me procuraram, amigas que sequer tinham imaginado que isso havia acontecido comigo… Essas pessoas comentaram que vão ficar mais atentas ao comportamento dos filhos. Também tenho conversado com uma psicóloga que é perita judicial e trabalha com casos parecidos. Ela tem me ajudado a montar a campanha. A ideia é conscientizar os pais para falar em casa sobre educação sexual. Fazer isso não se trata de ensinar precocemente sobre sexo, mas de promover o diálogo. A gente precisa diminuir esse tabu — conta Karen, de 37 anos.
A atriz , que revelou seu trauma à família após se tornar adulta, enfatiza, por experiência própria, que grande parte das vítimas esconde dos responsáveis a dor:
— Há muitas crianças que nunca contaram nada aos pais, por vergonha, culpa ou medo de serem ameaçadas. Porque muitas vezes o abusador é um conhecido da família. Eu fiz quase dez anos de terapia e, para mim, foi um processo de libertação falar. Eu tirei um peso das costas. Compreendi que as palavras podem ser poderosas também para que isso não volte a acontecer com outras pessoas. Compreendo que cada um tem o seu tempo de superar e entender, mas, quando a criança não tem essa liberdade em casa, depois de adulto vêm os fantasmas. Hoje acredito que temos que massificar essas informações para que cheguem ao ao máximo de pessoas possível.